O Poço
Mario de Andrade
O poderoso e autoritário fazendeiro Joaquim Prestes decide construir um
pesqueiro em sua fazenda. Ali, manda erguer uma bela casa de campo e,
quando está quase pronta, resolve fazer um poço. Para a obra são
chamados seis empregados da própria fazenda que, preocupados com o
perigo de maleita, não ficam felizes de ter que realizar esse trabalho
insalubre. Num dia do final de julho, faz um frio feroz no pesqueiro.
Joaquim vai visitar a obra com um visitante. Fica enfezado por ver que
os operários não estão trabalhando no poço. Os homens explicam que, com
aquele tempo, não agüentam permanecer no buraco úmido. Por isso, estão
dando uma mão no acabamento da casa. O prepotente Joaquim não gosta da
notícia. Ordenara que trabalhassem no poço.
Um dos trabalhadores, mulato e forte, informa que o poço, já com
quarenta e cinco palmos de profundidade, começara a minar água. Desse
modo, o trabalho fica ainda mais penoso. Um outro trabalhador, Albino,
já está doente, “fraco do peito”. Seu irmão, José, quer poupá-lo da
umidade e do perigo de desabamento, mas o jovem Albino é corajoso e
insiste que pode trabalhar. Como o tempo está péssimo, Joaquim Prestes
manda que os trabalhadores fiquem cuidando mesmo da casa, mas pede que
Albino o acompanhe para vistoriar o poço. Lá, tentando espiar a água lá
embaixo, Joaquim Prestes deixa cair sua caneta-tinteiro. Irritado, diz
não pode ficar sem a caneta e manda Albino chamar os outros homens. Quer
que desçam para apanhá-la. Albino tira os sapatos e a roupa e é descido
no poço, para preocupação do irmão José. Demora lá dentro e, quando
sai, está coberto de lama e morto de frio. Mas nada da caneta. Para
encontrá-la, só secando o poço. Joaquim Prestes não se faz de rogado:
manda que sequem e vai almoçar com sua visita. Quando volta do almoço,
Albino está ardendo em febre. Mesmo assim, Joaquim não se compadece.
Quer a caneta de qualquer jeito.
O estado de saúde de Albino vai piorando até que José se revolta. Para
surpresa de todos, enfrenta o patrão e diz que o irmão não desce mais.
Joaquim Prestes permite que a busca continue no dia seguinte. Afinal
“não é nenhum desalmado”. Dois dias depois, levam a caneta em seu
escritório. Ele a experimenta e vê que está rachada e não escreve mais.
Resmunga: “Pisaram na minha caneta! Brutos...”. Joga a caneta no lixo e
tira de uma gaveta uma caixinha. Dentro dela, várias lapiseiras e três
canetas-tinteiro. Uma de ouro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário